Na faculdade já conseguia ser mais simpática, foi quando descobri que durante a noite me torno um pouco menos intratável. Agora, um dia que me lembro bem foi a primeira vez que saí com meu namorado. Estava nos meus dias e isso me deixava muito insegura e desconfortável, mas, tirando o cuidado com a maneira que me sentava ou me levantava, o resto transcorreu bem. Mas, tenho certeza, se o tivesse encontrado uma semaninha antes, no período da TPM, nós teríamos sido um caso perdido de antipatia a primeira saída.
Daí, a gente já começa a perceber como essa questão de amizade é complexa. Sei disso porque sempre fui muito tímida. Quando tinha uns 15 anos, sonhava com o dia que eu poderia simplesmente entrar e sair sem nenhuma pessoa olhar para mim. Mas como adolescente nunca sabe o que quer direito, nessa fase eu era meio esquisita, daí não tinha jeito de ser invisível. Eu era morbidamente colorida, feia de um jeito engraçadinho... Uma combinação, no mínimo, intrigante. Acho que eu era aquele tipo de menina miudinha que todo mundo queria dar um banho e botar uma roupa bacana.
Anos depois, descobri a carência. Deve ter sido na mesma época em que descobri os filmes americanos “happy end”. Me deu uma vontade avassaladora de arrumar uma daquelas melhores amigas que fazem tudo com a gente. Então acabei amadrinhando uma menina que trabalhava comigo na época. Me pareceu bem cômodo porque nós já passávamos o dia todo na mesma sala, conversávamos muito sobre trabalho e sobre a vida. Normalmente, o assunto era qualquer problema que surgisse. O mais interessante é que tínhamos o mesmo cargo, salário e quase a mesma idade, ou seja, todos os sinais de compatibilidade. O que deu errado?! Tudo. Então, criei a máxima “amigos não, colegas de trabalho”.
O mundo anda muito tecnológico. Muito afobado também. A gente enche o messenger de contatos, com quem falamos em momentos de tédio ou de desocupação. Dá para contar uns três que são aqueles que a gente curte falar, ver, ligar. Além de tudo, para conseguir encontrar são umas quatro tentativas frustradas, até colar. Não me isento, claro que não. Mãe de criança pequena sai o dia que o bebê está bonzinho. Mas, sei lá... Amigo que é amigo não pode dar uma força? Só segurar o filhote um pouquinho enquanto esquento o chá... Ele não pesa nem cinco quilos direito, tadinho!
O mundo vai estranho. A gente pensa, pensa e não entende. De repente, estamos sentados dentro de uma caixa de concreto, olhando para uma caixinha projetora de imagens móveis e achando o supra-sumo da civilização. Se for TV a cabo, então! O ápice da realização socioeconômica. Nem cachorro a gente tem mais, porque nesse prédio não se pode ter. As vezes é até melhor... Que daí a gente evita a profecia de Bridget Jones: ser encontrados mortos, vários dias depois, devorados por cães selvagens. Porque se você é sozinho, vai levar um bom tempo para alguém dar falta de você!